07 02 2005
"O ruminante foi feito para ingerir fibras e não concentrados".
Agora que as exposições viraram moda, muitos criadores estão criando verdadeiros monstrengos balofos, com problemas de aprumos, de conformação e, principalmente, os ocultos problemas metabólicos que podem levar até à morte do animal.
Realmente, é fantástico o tamanho dos ovinos nas exposições do Brasil. Muita carne, muita gordura, muita beleza. Esse volume soma genética, melhoramento zootécnico e algo mais - (aliás, muito mais!) - para encher os olhos dos seus donos e futuros compradores.
O milagre é conseguido com "nutrição": só isso. Para entender esse assunto, convém voltar ao início da história.
Antes de tudo, um ruminante - Os ovinos naturalmente preferem forragem (fibras), mas o Homem - desde sua domesticação no século XX a.C. - ensinou-o a ingerir grãos de aveia, cevada, centeio, trigo, etc. O objetivo era acelerar o crescimento e conseguir carne mais cedo. Nas regiões geladas do planeta, grãos e resíduos da agricultura tinham que ser consumidos pelos animais, para forçar o crescimento antes que chegasse o inverno. Durante os meses de inverno (geralmente com neve), os animais domésticos produziam leite, carne e gordura para os humanos.
O animal do clima frio quer comer mais, para gerar maior calor orgânico (interno) para se aquecer, enquanto o animal tropical quer dissipar o calor interno. São organismos contrários! O consumo voluntário de forragens é geralmente reduzido nos climas quentes e aumentado nos climas frios, provavelmente devido ao efeito da produção de calor provocada pela ingestão da forragem.
O calor reduz o apetite do animal. Assim, quanto mais adaptado for o animal à região, maior será sua produção. Se o calor aumenta, o apetite diminui; se chega o frio, o apetite aumenta. Quando criado solto, o animal escolhe a melhor hora de pastar, ruminar e descansar. Estando em regime confinado ele acaba comendo muito mais do que necessita para viver...
Quando o animal consome uma grande quantidade de alimentos, tudo passa muito depressa pelo tubo digestivo, mal dando algum tempo para ser aproveitado. Se os alimentos forem palhas secas ou velhas, também atrapalham a digestão. Assim, modernamente, é comum utilizar uma dieta balanceada, ou seja, feno com um pouquinho de concentrado, com teor de proteína calculado.
Usando a inteligência - A nutrição balanceada pode ser conseguida no cocho (comprada na loja) ou no pasto (quando o solo está adubado corretamente).
Um depósito cheio de sacos de ração pode mostrar que o fazendeiro é "rico", mas que também está desperdiçando o próprio solo. A adubação das pastagens faz render 42% mais, em média. Com o passar dos anos, a adubação pode aumentar o teor nutricional dos vegetais em mais de 60%. Assim, investimentos no solo e nas gramíneas e leguminosas são muito mais recomendados. Afinal, os vegetais fazem antecipadamente uma pré-digestão para o ruminante, ou seja, eles preparam os alimentos tornando-os adequados aos animais. Ao invés de comer alimentos "do saco", os ruminantes deveriam comer alimentos do pasto!
Além de comer, o ruminante precisa beber, para facilitar a digestão. Ele prefere sempre a água na temperatura do rúmen, ou seja, ao redor de 37 ou 38 graus. O sal mineral precisa estar sempre disponível para o rebanho, pois os animais lambem a quantidade que precisam para complementar a dieta nutricional.
Os ruminantes podem ser divididos em "classes" quanto à nutrição. gestantes, vazias, lactantes, etc. As fêmeas lactantes apresentam uma alta taxa metabólica, precisam comer mais. O trato digestivo, o coração e o fígado chegam a crescer de tamanho, durante a lactação para garantir o aumento da taxa metabólica (C.W. Holm/G.F.Wilson). Assim, em toda fazenda, o manejo confinado exige vários tipos de dieta.
Distúrbios metabólicos - Os animais de campo gastam cerca de 20-30% a mais de energia do que aqueles em confinamento, pois precisam procurar alimentos o tempo todo. Os animais grandalhões e pesados apresentam maior necessidade de energia (Kleiber, 1965).
Os animais que estão sendo preparados para Exposições precisam ganhar volume e peso rapidamente e, então, os proprietários "socam" alimentos concentrados de alto valor protéico e energético. Na maioria dos casos, é um erro...
O manejo estabulado pode provocar distúrbios de saúde, algumas vezes patogênico ou apenas de inadaptação ao meio. O animal estabulado acaba ingerindo alimentos que, antes, não encontrava, e aí surgem as complicações metabólicas. As principais complicações são o timpanismo e a acidose.
As bactérias, fungos e leveduras digerem os alimentos pelo processo de fermentação, mantendo um pH entre 6,8 a 7,0, podendo baixar até 5,5. Se o animal consumir muito carboidrato solúvel (milho), o pH cai abaixo de 5,5 e as bactérias, fungos e leveduras começam a morrer, formando gás metano e carbono no rúmen. É o fenômeno do timpanismo e da acidose metabólica. Em estágio avançado as substâncias ácidas podem alcançar o plasma sanguíneo, reduzindo perigosamente as reservas de alcalino.
O timpanismo provoca um alargamento anormal do rúmem-retículo, devido ao excesso de gases, aumenta o flanco esquerdo, o animal fica inquieto, podendo chegar até a morrer.
Como evitar? Manter os animais em regime de campo, com volumoso à vontade. Parcelar ao máximo a dieta de concentrados. Se possível, adicionar bicarbonato de sódio ao concentrado. Deixar o animal, pelo menos, algumas horas num piquete ensolarado, todos os dias.
Em resumo: a preparação para exposições deve gastar um tempo muito maior, com alimentação menos intensiva. É preferível manter esses animais em pastos superadubados. No final, chegarão ao mesmo peso.
Fonte: O Berro nº 43. |